Megadeth: análise temática do álbum “Rust In Peace” - Valley Of Metal

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quinta-feira, 25 de julho de 2024

Megadeth: análise temática do álbum “Rust In Peace”


Lançado em 24 de setembro de 1990, "Rust In Peace" do Megadeth aborda temas como religião, guerra, política e problemas sociais, refletindo a visão pessoal de Dave Mustaine. Com composições intensas e um instrumental técnico e inspirado, o disco alcançou a posição de platina em 1994 e recebeu indicações ao Grammy em 1991 e 1992 na categoria "Melhor Performance de Metal".


A qualidade técnica e temática de "Rust In Peace" é evidente nas nove faixas do álbum, que ajudaram a colocar o Megadeth no topo do cenário do Heavy Metal. Vamos explorar um pouco cada faixa desta obra impressionante.


Holy Wars… The Punishment Due

O álbum começa com a clássica "Holy Wars… The Punishment Due". Instrumentalmente, a faixa é impressionante, mostrando muita técnica e emoção. Mustaine utiliza um cromatismo cativante e impactante. A letra fala sobre as chamadas "guerras santas", que há anos dividem países e tiram vidas, especialmente entre Israel e Palestina. "Holy Wars… The Punishment Due" faz uma excelente crítica a essa ideia, mostrando o quão alienante e perigoso pode ser transformar um púlpito em um palanque.


Hangar 18

Com um riff inicial marcante e cativante, "Hangar 18" é uma faixa extremamente técnica e direta. Em pouco mais de cinco minutos, a música contém onze solos. A canção é dividida em três partes dentro do campo harmônico de ré menor. Na primeira, temos o riff de introdução; na segunda, o canto começa acompanhado de quatro pequenos solos; e na terceira, a faixa se torna praticamente instrumental, com sete solos intercalados por interlúdios pesados.


A letra de "Hangar 18" faz referência à famosa Área 51 e à possível existência de alienígenas no local. A Área 51 é uma zona militar restrita no deserto de Nevada, próxima ao Groom Lake, nos Estados Unidos. Ela é tão secreta que o governo americano só reconheceu oficialmente sua existência em 1994, mas com muitas restrições.



Take No Prisoners

Com um riff potente e uma bateria habilmente tocada por Nick Menza, "Take No Prisoners"  faz claras referências à Batalha da Normandia, ocorrida em 6 de junho de 1944, quando os aliados ocidentais lançaram a operação "Overlord". Estados Unidos, Reino Unido e a França Livre tinham o objetivo de libertar a França do controle alemão. Até hoje, a invasão da Normandia é considerada a maior operação de desembarque marítimo da história.



A música faz críticas indiretas às guerras, incluindo um trecho do lema do Grande Irmão (personagem do livro "1984" de George Orwell), que dizia: “Guerra é paz”. Outra frase famosa, neste caso invertida na música, é de John F. Kennedy: “não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”.


Five Magics 

Com um baixo muito atmosférico, “Five Magics” traz uma sonoridade peculiar e nos remete aos tempos áureos da magia. Com pouco mais de dois minutos de introdução, a faixa narra a história de um homem que deseja e consegue dominar as cinco magias: alquimia, bruxaria, feitiçaria, termatologia e eletricidade.


A magia sempre foi amplamente estudada e, por vezes, ligada à ciência, tanto que antigamente era chamada de “Grande Ciência Sagrada”. A primeira magia citada por Mustaine é a alquimia, que era a química da Idade Média e buscava, assim como a ciência atual, descobrir a cura para todos os males, físicos e morais. A alquimia também tentava criar a “pedra filosofal”, que transformaria qualquer metal em ouro.


Em seguida, temos a bruxaria e a feitiçaria. Ambas as artes estão interligadas, porém, a bruxaria possui um caráter religioso, enquanto a feitiçaria busca influenciar o estado mental, “astral”, físico e/ou perceptivo da realidade, sem necessariamente ter essa ligação religiosa. Tanto o bruxo quanto o feiticeiro realizam magias (incluindo, claro, a feitiçaria). A diferença é que o bruxo reverencia um deus, deusa, deuses ou deusas.


A termatologia, mencionada na música como a quarta magia, refere-se ao uso do calor como remédio ou terapia médica. O termo também é conhecido como “termoterapia”. A termoterapia é utilizada no tratamento de doenças articulares pela aplicação de calor, seja superficial ou profundamente.


Por fim, temos a eletricidade. Curiosamente, a eletricidade foi inicialmente associada à magia e ao sobrenatural. Sua descoberta foi feita por Tales de Mileto, um filósofo grego, que ao esfregar um pedaço de âmbar em uma pele de carneiro, observou que pequenos fragmentos de palha e madeira eram atraídos pelo âmbar.


Nikola Tesla, conhecido por suas inúmeras contribuições para a humanidade, incluindo sistemas de potência elétrica em corrente alternada, sistemas polifásicos de distribuição de energia, o efeito Tesla de transmissão sem fio de energia, robótica, controle remoto, radar, ciência computacional e balística, era considerado um verdadeiro mago em sua época. Tesla viajou pelos Estados Unidos e Europa demonstrando suas teorias e invenções, e era famoso por fazer apresentações artísticas, agindo quase como um mágico. Ele era conhecido como “o mestre dos raios” e se recusava a palestrar sem sua bobina emitindo raios na sala.



Poison Was The Cure 

Não é segredo que Dave Mustaine sempre enfrentou problemas com drogas (chegando a ser preso com oito tipos de drogas injetáveis). Embora esse problema não faça mais parte de sua vida atualmente, muitas músicas do Megadeth foram certamente influenciadas por essas experiências químicas. "Poison Was The Cure", com uma introdução de baixo densa e criativa, aborda artisticamente os problemas que Mustaine tinha com o vício em heroína. De forma simbólica, ele usa uma serpente para representar a droga que corria em suas veias.


Lucretia

Com um riff inspiradíssimo, "Lucretia" traz excelentes solos e um clima carregado e narrativo. A música fala sobre um suposto fantasma que vive no sótão da casa de Dave Mustaine. No início da canção, uma risada estranha dá as boas-vindas à faixa. Seria essa a risada de Lucrécia?

Na história, tivemos duas figuras famosas chamadas Lucrécia: uma delas foi Lucrécia Bórgia, filha ilegítima de Rodrigo Bórgia, um importante personagem do Renascimento italiano que se tornou o papa Alexandre VI; a outra foi Lucrécia de Roma, uma lendária dama romana, filha de Espúrio Lucrécio Tricipitino, prefeito de Roma, e esposa de Lúcio Tarquínio Colatino.


Tornado of Souls

"Tornado of Souls" é simplesmente impecável, e se tornou um clássico absoluto do Megadeth. A letra reflete o estado emocional de Dave Mustaine após o término de seu relacionamento com sua noiva Diana, com quem esteve por seis anos. De maneira extremamente rancorosa e por vezes aliviada, a canção inclui frases como: “mas agora eu estou salvo no olho do tornado” e “você não se esquecerá dos meus lábios / você sentirá minha respiração fria, é o beijo da morte”.


Dawn Patrol

Com uma excelente introdução de baixo criada por Ellefson e letras declamadas ao invés de cantadas, a oitava música do álbum aborda de forma contundente a questão da destruição ambiental causada pelo aquecimento global, além de especular sobre como seria nossa vida em caso de uma guerra nuclear. "Dawn Patrol" funciona quase como uma introdução para a faixa de encerramento do disco.


Rust In Peace… Polaris

A última música do disco encerra com grandeza o clássico álbum. A qualidade técnica da faixa é evidente, algo constante ao longo de todo o disco. A temática surgiu a Mustaine quando ele estava dirigindo para casa vindo de Lake Elsinore, Califórnia, e notou um veículo à sua frente com um adesivo que dizia: “tomara que todas as ogivas nucleares enferrujem em paz”. Ele então imaginou essas velhas ogivas estocadas em uma praia qualquer, com crianças fazendo pichação nelas. O nome original da música seria "Child Sin", e Dave a compôs ainda quando estava no Metallica, mas só em 1990 a canção foi finalizada.


Para entender melhor a canção, é importante saber que na época do lançamento do álbum havia um acordo entre as potências mundiais sobre o desarmamento nuclear. A capa do disco, criada pelo artista Ed Repka, traz uma alusão a isso, mostrando o mascote do Megadeth, Vic Rattlehead, junto com os cinco líderes das "cinco grandes potências mundiais" do início dos anos 90. Os líderes representados na capa são: o ex-primeiro-ministro britânico John Major, o ex-primeiro-ministro japonês Toshiki Kaifu, o ex-presidente da Alemanha Richard von Weizsäcker, o ex-secretário-geral da União Soviética Mikhail Gorbachev, e o ex-presidente dos Estados Unidos George H. W. Bush.


  A música é dividida em duas partes: a primeira chamada “Rust In Peace” e a segunda “Polaris”. "Polaris" refere-se ao primeiro projeto de SLBM (Submarine-Launched Ballistic Missile – Míssil Balístico de Lançamento Submarino), lançado pela marinha dos Estados Unidos. Financiado e desenvolvido por volta dos anos 50, durante a Guerra Fria, e destinado a substituir o antigo míssil Regulus, o Polaris se tornou uma das contribuições mais significativas para o arsenal bélico dos EUA desde então.  



Se existe um álbum que podemos considerar o Magnum Opus do Megadeth, certamente é “Rust In Peace”. Muitos, inclusive, consideram esta obra como uma das melhores da história do Thrash Metal, ao lado de “Master of Puppets” do Metallica, “Reign In Blood” do Slayer, e “Among The Living” do Anthrax.


“Rust In Peace” é uma obra-prima pintada com o mais alto nível de técnica, suas nuances transmitem fortes emoções e apego emocional, despertando inveja nos mais egocêntricos e orgulho nos mais observadores. Além disso, serve como um refúgio cultural para os admiradores da verdadeira arte chamada Heavy Metal.


Formação:

  • Dave Mustaine (vocal, guitarra)
  • Marty Friedman (guitarra)
  • David Ellefson (baixo)
  • Nick Menza (bateria)








 

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