Manowar: mitologia e música através da faixa “Achilles, Agony and Ecstasy In Eight Parts” - Valley Of Metal

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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Manowar: mitologia e música através da faixa “Achilles, Agony and Ecstasy In Eight Parts”


Em 29 de setembro de 1992, o Manowar lançou seu sétimo álbum de estúdio, intitulado “The Triumph of Steel”. Este álbum é uma verdadeira obra de arte, repleto de músicas pesadas e grandiosas. Com David Shankle e Rhino na formação, o álbum inclui uma faixa épica de mais de 28 minutos chamada “Achilles, Agony and Ecstasy In Eight Parts”, sobre a qual vou falar um pouco agora.

A música é dividida em oito partes, como o nome sugere, e é uma verdadeira aula de interpretação, narrando a história mitológica de Aquiles, o guerreiro "Invulnerável". Aquiles era filho da ninfa Tétis e do rei dos mirmidões, Peleu, e foi treinado por Quíron, o centauro, que também instruiu Hércules, Aristeu, Ajax e Teseu.



Existem duas lendas sobre a "invulnerabilidade" de Aquiles. A primeira conta que Tétis, insatisfeita com a mortalidade de seu filho, colocou o bebê em um poço com chamas mágicas, que supostamente transformavam qualquer humano em imortal. Diariamente, Tétis expunha uma parte diferente do corpo de Aquiles às chamas, mas quando só faltavam os calcanhares, Peleu viu a cena, tomou o menino das mãos de Tétis e fugiu, acreditando que ela estava tentando matar o filho.


A segunda versão diz que Tétis tentava banhar Aquiles nas águas sagradas do Rio Estige, segurando-o apenas pelos calcanhares. Novamente, Peleu apareceu e levou a criança antes que o ritual fosse completo. Como resultado, Aquiles ficou invulnerável em todo o corpo, exceto pelos calcanhares.



Aquiles teve um papel crucial na batalha entre gregos e troianos. Tudo começou com a intensificação da instabilidade política na região, tornando a guerra inevitável. O estopim foi uma disputa entre as deusas Afrodite, Atena e Hera, que queriam saber qual delas era a mais bela. Elas escolheram Páris, príncipe de Troia, como juiz. Afrodite venceu a disputa prometendo a Páris a mulher mais bela do mundo e, para cumprir sua promessa, raptou Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau.


Troia, governada pelo rei Príamo e seus filhos Páris e Heitor, entrou em estado de alerta, pois o sequestro de Helena tornou a guerra inevitável. Após recusar inicialmente participar do conflito, Aquiles foi convencido a lutar ao lado dos gregos por Ulisses. Durante a guerra, Aquiles conquistou muitas vitórias, devastando cidades, territórios e bases militares troianas com poucos soldados. No entanto, uma desavença com Agamenon, rei de Micenas, levou Aquiles a abandonar os campos de batalha, o que deu uma vantagem significativa aos troianos.


Com as tropas gregas à beira da destruição, Pátroclo, o melhor amigo de Aquiles, decidiu liderar os mirmidões fingindo ser Aquiles. Vestindo sua armadura e usando seu carro de batalha, Pátroclo conseguiu expulsar os troianos das praias ocupadas pelos gregos, mas foi morto por Heitor. Quando Aquiles descobriu que seu amigo havia sido morto, ele retornou à luta para vingar Pátroclo e acabar com a guerra.


A música do Manowar trata dessa vingança de Aquiles e sua batalha crucial contra Heitor. Aquiles foi sozinho até as muralhas de Troia e desafiou Heitor para uma luta árdua. Dominado pelo ódio, Aquiles atravessou uma lança na garganta de Heitor, matando-o instantaneamente. Não satisfeito, ele amarrou o corpo de Heitor a seu carro e arrastou o cadáver pelos campos de batalha durante nove dias.



A música descreve poeticamente esse trecho da história, dividindo os acontecimentos em oito partes:

“Prelude”

I. “Hector Storms The Wall” (HEITOR ASSALTA A MURALHA)

II. “The Death of Patroclus” (A MORTE DE PATROCLO)

III. “Funeral March” (MARCHA FUNERÁRIA)

IV. “Armor of The Gods” (ARMADURA DOS DEUSES)

V. “Hector’s Final Hour” (A HORA FINAL DE HEITOR)

VI. “Death Hector’s Reward” (A RECOMPENSA DA MORTE DE HEITOR)

VII. “The Desecration of Hector’s Body (Pt. 1, Pt. 2)” (A PROFANAÇÃO DO CORPO DE HEITOR)

VIII. “The Glory of Achilles” (A GLÓRIA DE AQUILES)

Todas as oito partes são espetaculares, tanto em expressão quanto em execução. Dessas, três são instrumentais, incluindo solos de bateria e baixo.


Logo após a morte de Heitor, os gregos elaboraram um plano para penetrar as muralhas de Troia. Construíram um gigantesco cavalo de madeira e o ofereceram como presente de paz aos troianos. O cavalo foi levado para dentro da cidade e, à noite, soldados gregos emergiram de seu interior, pegando os troianos de surpresa enquanto dormiam e abrindo os portões para que mais soldados pudessem entrar.


Com esse golpe de inteligência, os gregos transformaram Troia em um berço de sangue e venceram a guerra. No entanto, nos momentos finais do conflito, Páris disparou uma flecha envenenada que atingiu um dos calcanhares de Aquiles, fazendo com que o lendário guerreiro morresse lentamente.



Devido ao conteúdo lírico da música do Manowar, a canção atraiu a atenção de um grupo de pesquisadores da Universidade de Bolonha, na Itália. A professora de História Clássica, Eleonora Cavallini, escreveu o seguinte sobre a canção:


“A letra de Joey DeMaio implica numa cuidadosa e escrupulosa leitura da Ilíada. O compositor focou sua atenção especialmente na batalha crucial entre Heitor e Aquiles, e parafraseou algumas passagens do poema para uma estrutura melódica com certa fluência e parcialmente reinterpretando-a, mas nunca alterando ou distorcendo a história de Homero. O propósito da letra (e também da música) é evocar as características de alguns cenários homéricos: a tempestuosidade da batalha, a barbárie, a feroz exultação do vencedor, a tristeza e a angústia do lutador que pressente a morte sobre ele. Toda a ação se dá sobre Heitor e Aquiles, que são representados como personagens opostos, divididos por um ódio irascível e ainda assim unidos por um destino em comum. Ambos são retratados no momento da maior exaltação, enquanto regozijam sobre o sangue dos inimigos mortos, mas também de mais extrema dor, quando o demônio da guerra finalmente se apossa deles. Mais além, diferentemente do irreverente e iconoclasta Troia, a canção tem o divino como algo sempre presente, determinando os destinos dos humanos com ferocidade inescrutável, e apesar da referência genérica aos “deuses”, o verdadeiro mestre das vidas humanas é Zeus, o único deus ao qual tanto Heitor quanto Aquiles direcionam suas preces”.
— Eleonora Cavallini







 

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